quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O desenvolvimento moral




A adolescência é um período caracterizado pela construção e definição de valores sociais, e é também nesta fase que o juízo e o raciocínio moral, adquiridos na infância, continuam a desenvolver-se. No âmbito do desenvolvimento moral, salientam-se os modelos de Piaget e Kohlberg, que mesmo sendo alvo de várias críticas, constituem os modelos mais válidos e completos.
O desenvolvimento moral é constituído por três aspectos distintos:
  •  Comportamental, o adolescente adapta uma atitude mais altruísta e solidária para com a sociedade;
  •  Cognitiva, no sentido em que o adolescente adquire novas capacidades cognitivas, como a reflexão e a abstracção que lhe permite construir um juízo moral; 
  •   Atitudes, valores, regras e convenções sociais, que são interiorizados por parte do adolescente e vão orientar o seu comportamento, fazendo a ligação entre os dois aspectos anteriores (Palacios et al., 1999).
     Segundo Piaget, que estudou principalmente o desenvolvimento moral na infância, a relação de obediência da criança para com o adulto favorece uma moral heterónoma, em que as regras e normas são impostas por estes. Assim sendo, as regras exteriores tornam-se regras da criança só quando esta as adopta – moral autónoma, e provêm de relações de reciprocidade e cooperação, por exemplo de uma relação com outra criança, pois esta atitude de cooperação iria exigir uma descentralização cognitiva, requisito essencial para a adopção de um juízo moral. O adolescente será, então, capaz de construir os seus próprios juízos e raciocinar moralmente, de forma autónoma, as regras deixariam de ser impostas e exteriores, havendo compreensão das mesmas (Palacios et al., 1999).
Na perspectiva de Kohlberg, que focou o seu estudo maioritariamente na adolescência e idade adulta, através de estudos transculturais, o desenvolvimento moral era constituído por seis fases, que se distribuem em três níveis diferentes:
  • Pré-convencional, corresponde em Piaget à moral heterónoma, em que normas e regras são exteriores ao indivíduo, por imposição dos adultos. Este nível era composto por crianças, com idades até aos 9 anos, mas também por alguns adolescentes e adultos; 
  •   Convencional, os conceitos de normas e regras, já foram interiorizados. O sujeito irá cumprir as normas, não só por obediência, mas também para conquistar o respeito e a consideração, pelos outros; 
  •   Pós-convencional, em que numa primeira fase o princípio é o do contrato social, ou seja um compromisso aceite por pessoas com estatutos iguais, compromisso esse que requer um descentramento cognitivo, ou seja a capacidade de se colocar no lugar do outro. Numa segunda fase para o indivíduo, o valor moral das acções não irá apenas ser julgado sob o critério das normas sociais, mas principalmente por princípios éticos universais, como a justiça, a liberdade e a racionalidade (Palacios et al., 1999).
Segundo Kohlberg, o desequilíbrio e a reequilibração cognitiva e o role-taking, são dois mecanismos que permitem a transição de uma fase para outra fase superior. O primeiro mecanismo, o desequilíbrio e a reequilibração cognitiva, em que os esquemas morais são colocados à prova, de forma a superarem-se, à semelhança do desenvolvimento intelectual que implica o desequilíbrio das estruturas e posterior equilibração. O role-taking é o mecanismo responsável por permitir ao indivíduo colocar-se no papel do outro e compreender a sua perspectiva. Ambos os processos, aliados à exposição a níveis superiores do desenvolvimento moral, permitem a transição para níveis superiores (Palacios et al., 1999).
Tanto Piaget como Kohlberg admitem que para o desenvolvimento moral é necessário um desenvolvimento cognitivo, no entanto este não é a única condição. Assim sendo, antes do estádio das operações formais, não é possível atingir a fase do pós-convencional. Seria então de esperar, que esta fase fosse atingida na adolescência, mas isto só acontece a uma fracção mínima da sociedade e geralmente só após os 20-25 anos de idade. Nos estudos transculturais de Kohlberg, muito poucos adolescentes atingiam o nível do pós-convencional, a maioria permanecia nos níveis pré-convencionais e convencionais.
Para Biaggio, Kohlberg assumia que a maturidade moral seria atingida quando o indivíduo fosse capaz de compreender a diferença entre lei e justiça; este seria capaz de filtrar os valores da cultura em que está inserido e não apenas incorpora-los passivamente (Sousa, 2006).
Ambos os autores, concordam com Kant, ao defenderem que a consciência moral encontra-se na razão, tanto Piaget como Kohlberg consideram que a evolução do juízo moral dá-se por uma sequência de fases, e os dois autores pensam que é próprio da adolescência atingir uma moral autónoma.
Porém, estas duas investigações sofrem de diversas limitações, ao encararem o juízo e o raciocínio moral como consciência moral, pois a moralidade não se restringe ao conhecimento cognitivo, mas também inclui as interacções sociais, as atitudes, as disposições, o comportamento prático real.
Assim sendo, o desenvolvimento moral na adolescência reúne para além do desenvolvimento cognitivo, que é condição necessária mas não suficiente, as atitudes e valores e as acções de cooperação, solidariedade e altruísmo (Palacios et al., 1999).

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